Nesta semana, o Projeto Meros do Brasil participou da 9ª Oficina de Avaliação do Risco de Extinção de Espécies, em Itajaí, Santa Catarina, no Centro Nacional de Pesquisa da Biodiversidade Marinha do Sudeste e Sul – CEPSUL.
A oficina reuniu 15 pesquisadores de 12 instituições brasileiras, e, representantes do Instituto Chico Mendes (ICMBio) – responsáveis pela condução do processo –, para avaliar além do mero (Epinephelus itajara), o risco de extinção de outras 12 espécies de peixes ósseos como o badejo-quadrado ou sirigado (Mycteroperca bonaci) e a garoupa São Tomé (Epinephelus morio).
A avaliação foi realizada seguindo a metodologia utilizada pela International Union for Conservation of Nature (na tradução União Internacional para Conservação da Natureza), mais conhecida pela sigla IUCN. Inicialmente os dados necessários à análise foram inseridos pelos pesquisadores participantes em uma plataforma online criada especificamente para facilitar esta etapa.
Segundo Roberta Aguiar dos Santos, coordenadora do CEPSUL, todas as informações que incidem sobre o estado de conservação da espécie foram apuradas. Pontos de distribuição, dados populacionais, qualidade do habitat, ameaças, impactos que influenciam as populações, questões reprodutivas e longevidade foram analisados.
Ao final da avaliação, foi elaborado um mapa de distribuição das espécies, e a equipe do ICMBio, juntamente com os especialistas da comunidade científica, as classificaram conforme critérios estabelecidos pela IUCN, como por exemplo a diminuição da população ou uma distribuição geográfica muito restrita.
O Projeto Meros do Brasil, patrocinado pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental, vem contribuindo com as oficinas desde o seu primeiro ciclo de avaliação em 2008. Na ocasião, foram os especialistas do PMB quem buscaram a parceria com a IUCN para que integrantes da instituição estivessem presentes na avaliação nacional.
Nesta edição, seis pesquisadores da equipe Nacional do PMB participaram do evento levando os dados necessários à avaliação da população de meros, bem como de outras espécies. Dois deles, o oceanógrafo e Doutor Áthila Bertoncini juntamente com o idealizador do Projeto, Doutor Maurício Hostim, participam também das avaliações internacionais do grupo de especialistas em garoupas e vermelhos (Groupers and Wrasses Specialist Group - GWSG), promovidas pela IUCN, há 14 anos.
Uma espécie pode ser enquadrada em onze categorias distintas de acordo com o grau do risco de extinção em que se encontra. Quando consideradas ameaçadas, as espécies podem ser classificadas sob três categorias: Vulnerável (VU), Em Perigo (EN) e Criticamente em Perigo (CR), respectivamente citadas em ordem de risco crescente. No Brasil, o mero é considerado Criticamente em Perigo, ou seja, se subir uma categoria, de acordo com a classificação, ele poderá estar Extinto Regionalmente (RE).
Já na última avaliação internacional realizada pela IUCN nos Açores, em Portugal, em 2016, o mero passou da categoria de Criticamente Ameaçado para Vulnerável. A atualização não refletiu a melhora do status das populações mundiais, pelo contrário, se ocorreu em razão da ausência de informações populacionais.
No Brasil, a categoria criticamente ameaçada foi mantida na avaliação de 2020. De acordo com Áthila, fornecidos todos os dados populacionais tanto dos jovens monitorados nos estuários, quanto dos adultos presentes nas agregações reprodutivas, foi observado que declínios ainda persistem. “A todo o momento recebemos denúncias de capturas de norte a sul do país e isso não contribui pra recuperação da espécie”.
O pesquisador enfatiza que além da pesca ilegal, existem outras questões que podem dificultar a recuperação das populações, tais como a supressão de manguezais – que são habitats essenciais para que o mero chegue a fase adulta – e a degradação do meio ambiente através da poluição.
Seguindo na metodologia de avaliação, os resultados ainda passarão por uma validação, na qual é verificada a consistência da aplicação do método, e depois constarão em um relatório consolidado pelo ICMBio que será entregue ao Ministério do Meio Ambiente para que seja feita a publicação da Lista Nacional Oficial das Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção.
O estado de conservação de cada grupo de espécies é revisado numa periodicidade máxima de cinco anos. O primeiro ciclo de avaliação iniciou em 2009, tendo avaliado de lá para cá 12.254 táxons da fauna brasileira, incluindo todos os vertebrados conhecido até 2014, sendo 1.200 espécies de peixes ósseos.